The Australian Dream
Na verdade, todo sonho começa assim do nada, uma fagulha de esperança, uma ideia repentina, um conceito nunca antes visto ou até mesmo uma decisão jamais cogitada. Um brilho nos olhos é a prova real (como dizemos na matemática) de que as palavras são verdadeiras, e vejo esse brilho quase todos os dias nos olhos de Zandoná Junior. Administrador de profissão, quase engenheiro de ocasião e sonhador desse mundão, Zandoná não é aquilo que podemos chamar de cauteloso em seus pensamentos futuros. No que diz respeito ao amor, as duvidas diárias são muitas, os nomes variam e as paixões e admirações se estendem inclusive aos possíveis e passados sogros. Um amor de outra província não seria jamais obstáculo para Zandoná, afinal a distância é sempre desprezível para verdadeiros sonhadores. A empolgação nunca é moderada ao compartilhar suas dúvidas com esse humilde matemático que vos fala. “Será ela, ou será aquela, qual seria a mulher certa para mim?”. Às vezes imagino as mesmas (ou mais) dúvidas compartilhadas com Marquezin, sua companheira de mesa e de profissão, a qual divide mais horas do seu tempo do que eu. Cabe aqui uma simples regra de três para imaginar a explanação desse conteúdo em horas à Marquezin. Mas nosso sonhador favorito não se limitada apenas aos seus possíveis amores, sonha alto também em sua profissão, “manager” de suas próprias decisões, perdi a conta de quantas vezes escutei a seguinte frase: “quando eu for rico,...”. Entre tantas outras frases. Zandoná devia palestrar sobre sua empolgação, nada mais, essa sim pode ser altamente contagiosa. Mas faltava à ele escolher um lugar. No fim das contas, o que seria de um grande sonhador se não tivesse escolhido o seu lugar favorito? Aquele em que sonha viver e morrer. Afinal, certa vez li que as pessoas que são realmente grandes, justamente por isso, são grandes demais para nascer e morrer no mesmo lugar. Não conheço Frederico Westphalen, cidade natal de Zandoná, mas já sei que é pequena para seus grandes sonhos. Sei que ele já viveu fora do Brasil por cerca de um ano e meio e sei também qual era esse longínquo destino. Talvez eu não tenha tanta propriedade para falar, pois apesar de conhecer vários lugares do mundo, ainda não conheço a terra dos cangurus. Sei que foi lá que ele abriu seus horizontes de mundo, que foi lá que ocorreram as melhores histórias, que foi lá também que talvez tenham ocorrido os melhores amores e sei de tudo isso porque passei o mesmo tempo fora do Brasil, mas em outro lugar. O mais engraçado é que muitas vezes precisamos ir bem longe para olhar com carinho e atenção para o que está aqui perto. Sonhar com um lugar melhor tendo como exemplo um modelo vivenciado e vencedor é muito mais fácil e muito mais palpável. Os exemplos de Sydney, Camberra, Melbourne e tantas outras ficaram na vida dele para sempre. Assim como tenho os meus, Zandoná tem os dele e inevitavelmente realiza infundadas comparações diárias com os brasileiros. É injusto, melhor não tentar. Não venceremos em quase nenhum quesito. É triste. Entendo o paradoxo de Zandoná. Precisamos desistir das comparações para vivermos felizes aqui, ou pegar o primeiro avião sem escalas para Sydney, para daí sim, cada um de nós viver o nosso próprio “Australian Dream”.