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Assustado


Sentado no meu sofá e estupefato pela presente paz que pairava no Bom Fim naquele momento, fui voltando no tempo e enxerguei um rapaz de dezoito anos sentado em uma calçada colada ao paralelepípedo na distante região metropolitana de Porto Alegre. Olhei nos olhos dele e vi um mundo cheio de dúvidas, de incertezas e de preocupações. Mesmo com apenas dezoito anos, aquele rapaz já olhava pra frente com cautela, mas não tinha nada a que se apegar, tinha só sua família. A sua incrível família. Apegado apenas a crença de que um dia “tudo” vai dar certo, dividindo o tempo entre as falácias da juventude e a única responsabilidade de estudar, aquele rapaz se perguntava se um dia teria sua casa, um emprego bom, suas coisas e se ele faria algo de verdade na vida. Olhei nos olhos dele e disse: “Você conseguiu!”. Acho que ele não me escutou, mas tenho certeza de que cerca de doze anos depois ele entenderá. Não queria assustá-lo. Por tal motivo não falei assim pra ele: “Rapaz, você vai ser um grande matemático, fará mestrado e depois doutorado no exterior. Vai conhecer o mundo e falar 5 línguas. Vai morar em um dos bairros mais famosos de Porto Alegre, vai ter uma gata cujo nome é Hipotenusa. Vai ser faixa preta de taekwondo e vice-campeão municipal de xadrez. Vais fazer até pós doutorado, será professor de universidade e talvez até escritor, terá artigos publicados com seu nome e um livro também.” Sim, ele ficaria assustado e com certeza jamais pensaria ser capaz de fazer tudo aquilo, mas não ter falado à ele tem seu lado bom, o lado da surpresa. Voltei ao meu sofá no Bom fim e fiquei pensando na minha incrível família que tinha acabado de sair de uma janta ali mesmo na minha casa. Eu havia cozinhado para eles com tanto carinho, com tanto agradecimento. Sempre tive tanto apoio emocional deles, sempre me senti amparado e confortável para dizer o que pensava. Vontade de chorar de felicidade ao saber que deu “tudo certo”. Senti mais um devaneio, vindo de longe e me perguntei se as pessoas que viram aquele pequeno rapaz e por motivos mais extremos não podem me ver hoje, o que fariam? O que diriam? Confesso que talvez seja mais belo imaginar do que saber de fato seus pensamentos. Estou com todos vocês, estou aqui no meu sofá, tão perto. Realizado e com trinta anos de existência, mas na verdade, como um garoto de dezoito que pulou doze no tempo. Assustado!

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